Depois de Death From Above 1979, The Dears e Arcade Fire, o espectro canadiano dá-nos a honra de apresentar Owen Palett, ou antes, Final Fantasy. Com um nome retirado do famoso jogo de computador, Final Fantasy não é um novato nestas andanças: foi violinista dos Arcade Fire na digressão de Funeral (e encarregado das orquestrações deste álbum) e colaborador activo dos Hidden Cameras. Além disso, é famoso na cena indie canadiana, onde já trabalhou com a Orquestra Barroca de Toronto, tendo como arma o seu violino, instrumento em que se iniciou aos 3 anos. Nascido no Canadá, cedo se mudou para o País de Gales, terra natal dos seus pais. Mais tarde regressou a Toronto, trazendo na bagagem as raízes galesas que transportou para a sua música.
‘He Poos Clouds’ é a evolução de ‘Has a Good Home’, um ensaio interessante lançado em 2005 mas que perdia pela modéstia com que este excelente músico encarava as canções. Abandonando um minimalismo excessivo, ‘He Poos Clouds’ não pretende ser (nem é) um título a roçar o brejeiro. É antes um resvalar em erudição, com violinos agudos e pianos metódicos, onde a voz mansa de Pallet encontra um espaço íntimo e aconchegante para sussurrar ao mundo. É um disco único, em que uma diáspora sonora se torna surpreendentemente íntima e aconchegante para qualquer amante de música.
É assim que, em ‘Artic Circle’, ao fecharmos os olhos, conseguimos imaginar linhas que conduzem a uma outra dimensão onde os nossos pêlos eriçam e a pele transpira num adágio de violinos; e, em ‘Song Song Song’, a percussão transporta-nos para um mundo industrial onde tribos africanas coabitam com a nossa mente neurótica e o nosso dedinho do pé abana ao som do ritmo; e com ‘The Pooka Sings’ chega ao fim o álbum, num arrepio na espinha, onde o violino não chora e a voz não esmorece; mas há um nó na garganta que teima em não desatar.
A não perder, dia 14 de Outubro, em Leiria, e dias 15 e 16, em Lisboa e Famalicão, respectivamente.


Musicar-te: para quem gosta de música enquanto arte.